domingo, 20 de novembro de 2011

Brasileiros estão mais felizes na terceira idade

"Antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho", afirma psicóloga.


Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de melancolia e solidão. Quem ainda acredita que a terceira idade está restrita a cadeiras de balanço, agulhas de tricô e partidas de gamão não conhece a vida do idoso contemporâneo. Uma pesquisa divulgada este mês pelo Programa de Novas Dinâmicas do Envelhecimento aponta que os brasileiros estão mais felizes quando chegam na terceira idade. Segundo o estudo, realizado por pesquisadores ingleses entre os anos de 2002 e 2008, a maioria dos idosos brasileiros se considera "satisfeita" ou "muito satisfeita" com suas condições de vida, com o respeito que recebem dos familiares e com o relacionamento mantido com outras pessoas.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados do Censo Demográfico 2010 apontam que a população idosa no País cresce, enquanto diminui o número de jovens com até 25 anos. E esse crescimento parece mesmo ser uma tendência. Uma pesquisa do Banco Mundial prevê que em 2050 o número de brasileiros com mais de 65 anos deve saltar dos atuais 20 milhões para 65 milhões - ou seja, será três vezes maior. "Hoje estamos envelhecendo cada vez mais e melhor. Isso se deve a diversos fatores, como melhoria da qualidade de vida e avanço da medicina", destaca Rita Khater, professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de CampinasSegundo ela, há alguns anos a representação social do idoso era a do dependente, inválido ou mesmo inútil. "Ainda existe muito preconceito com relação à velhice, mas estamos evoluindo. Isso porque o crescimento da população idosa é significativo e, naturalmente, a sociedade vai sendo obrigada a se transformar para quebrar esses paradigmas", afirma a professora.

Existir x produzir


A psicóloga Isabella Quadros, mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP, explica que a visão negativa do idoso está intimamente ligada ao capitalismo. "Em uma sociedade cujo modelo econômico gira em torno do capital, o seu significado está atrelado ao que você produz. Quando você se aposenta, teoricamente deixa de produzir e, consequentemente, perde sua função no mundo. Por isso durante tanto tempo a aposentadoria foi encarada como uma espécie de sentença de morte", diz.

Isabella ressalta, no entanto, que com o aumento da expectativa de vida, as pessoas passaram a se deparar com um futuro pós-aposentadoria de 20 ou 30 anos. "Isso é uma grande novidade: a pirâmide se inverteu. Se antes o número de jovens era superior ao de idosos, hoje temos um crescimento muito maior de pessoas na terceira idade", observa. De acordo com a professora Rita Khater, antes as pessoas se aposentavam da vida e hoje se aposentam somente do trabalho.


É por isso que grande parte dos idosos, quando se aposenta, parte para a realização de projetos de vida. Viagens, cursos e a prática de esportes são apenas alguns exemplos de atividades comumente escolhidas pelos mais velhos. "Quando se sentem livres das obrigações formais, as pessoas tendem a olhar mais para si mesmas e a fazer o que realmente querem. Muitos idosos vivenciam a aposentadoria como um renascimento; uma possibilidade de ter novas experiências e realizar antigos sonhos", diz Maria Cristina Dal Rio, professora do curso de Aperfeiçoamento em Gerontologia do Instituto Sedes Sapientiae.

É o caso de Jacy de Arruda Faccioni, de 93 anos, que desde menina sonhava em ser professora. "Vim de um regime bastante rígido e acabei me diplomando em contabilidade porque minha mãe não queria que eu fosse professora. Mas não desisti do meu sonho, e com 66 anos fui fazer Magistério", conta ela, que participa de diversas atividades para idosos oferecidas pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) de Campinas, no interior de São Paulo.


A simpática senhorinha canta, dança, atua, escreve poemas, não abre mão de uma boa taça de vinho tinto e diz que jamais sai de casa sem maquiagem. "Sou muito vaidosa e independente. Faço minhas atividades no Sesc semanalmente. Frequento bailes da terceira idade, vou ao shopping com minhas amigas, lavo minha própria roupa. Sempre fui independente e sempre quero ser. Claro que a idade traz algumas limitações, mas sou da seguinte teoria: tudo na vida tem solução", ensina Jacy. O segredo para uma velhice feliz? "Não guardar mágoas e ressentimentos. Isso judia muito do coração". E completa: "Ainda hoje a vida me encanta, me fascina."

Uma vida ativa também está associada ao bem-estar dos idosos. Professor de Educação Física e formado em Gerontologia, Benedito Saga [CREF 005445-G/SP] trabalha com grupos da terceira idade há pelo menos 25 anos e enxerga uma evolução significativa na vida dos idosos. "Na década de 70 existia muita dificuldade em trazer os idosos para integrar grupos de atividades culturais e físicas. Eles tinham vergonha até de mostrar as pernas usando bermuda. O avanço veio na década de 80, quando a preocupação com a saúde e o bem-estar foi ampliada no Brasil", diz. O professor observa que as atividades em grupo são essenciais para que os idosos se sintam mais felizes e ativos.


"Rainha da Terceira Idade"

Com os cabelos claros, bem cortados, unhas feitas, brincos de pedras e batom, Dolores Fernandes anda sempre impecável. Faz atividade física diariamente, canta em um coral, viaja bastante e já está de malas prontas para realizar o seu sonho: conhecer a Itália. Lola, como prefere ser chamada pelas amigas, há um mês resolveu fazer algo inédito em sua vida: morar sozinha. Essa história parece comum, comparada facilmente a de centenas de mulheres no Brasil. A diferença, neste caso, é que Lola vive bem e mais feliz do que nunca aos 81 anos de idade.

O segredo de tanta vitalidade, felicidade e da aparência jovem, segundo Lola, é interagir, praticar atividade física, viajar e, principalmente, ter amigos. "Trabalhei a vida toda. Fui comerciante. Quando era jovem eu tinha muitas preocupações, como bancar o ensino dos meus filhos, por exemplo. Hoje o tempo que eu tenho é meu", explica.


A história dela é semelhante a de Maria Augusta Assis. Cantora por natureza e hoje aos 74 anos, a aposentada mora sozinha e, de tão animada, ganhou o título de "Rainha da Terceira Idade". "Adoro meus amigos e sempre que posso estou com eles. Sou tão ativa que não consigo ficar quieta", conta. Nem a eventual falta de sono à noite a perturba. "Tenho um aparelho de videoke em casa e sempre que tenho insônia, começo a cantar. É um ótimo remédio", ensina.

Fonte:  Mídia News

Projetos de Lei em Goiás valorizam a Educação Física

O deputado estadual Ademir Menezes, sensibilizado com o crescente aumento do peso da população, quer garantir em lei a obrigatoriedade do profissional de Educação Física nos hospitais e unidades de saúde do Estado de Goiás, especialmente nos Núcleos de Apoio à Saúde de Família. O Projeto de Lei 364/2011, que já está em trâmite na Assembleia Legislativa de Goiás, garantirá vagas para o profissional de Educação Física em todo concurso na área de saúde realizado pelo estado.
O mesmo deputado se dispôs a apresentar um projeto para alterar a Lei Estadual nº  12.881/1996 que obriga o Teste Especifico de Esforço Físico (exame de esteira) para o ingresso nas academias, o que tem sido inviável, pois o teste é muito caro e pode apresentar resultados inconsistentes. A proposta é que se passe a apresentar o Atestado Médico, ficando o médico livre para definir qual exame ou teste se faz necessário. A intenção é atualizar a lei, adequando-a ao Código Sanitário de Goiás, às orientações da OMS, da ANVISA e do CONFEF. 

Outro avanço na alteração da nº  12.881/1996, que trará benefícios aos empresários e profissionais de Educação Física, é o reconhecimento das academias e similares como entidades da área de saúde, visto que o Conselho Nacional de Saúde já reconhece a profissão de Educação Física como sendo da área da saúde desde 1997, pela Resolução CNE 218. Para o presidente do  CREF14/GO-TO, Rubens dos Santos Silva, esta é uma iniciativa que demonstra o reconhecimento da importância do profissional de Educação Física pelo poder legislativo de Goiás. “É imprescindível nesse momento de trâmite que os profissionais e acadêmicos de Educação Física interajam com os deputados através de mensagens eletrônicas, cartazes, fax, telefone e visitas à Assembléia Legislativa e mostrem que, com a aprovação do PL, a sociedade goiana será a maior beneficiada, que a atividade física colabora para uma maior longevidade, com mais qualidade de vida o que significa economia para os cofres públicos em gastos com tratamento de doenças”, concluiu o presidente do Conselho.


Fonte: CREF14/GO-TO

domingo, 2 de outubro de 2011

Associação Cultural Fanfarra Musical de Ibirataia- FAMUIBI, inicia a XVII- Campeonato Baiano de Fanfarras e Bandas- 2011 com o pé direito


A XVII- Edição do Campeonato Baiano de Fanfarras e Bandas promovida pela Associação Baiana de Fanfarras e Bandas- AFAB-BA teve seu inicio no dia 28 de Agosto de 2011 na cidade de Lauro de Freitas-BA com o evento intitulado de CONFANRESOL.
 O palco da grande festa da música instrumental e de belas coreografias ficou em Salinas da Margarida-BA, onde a Associação Cultural Fanfarra Musical de Ibirataia- FAMUIBI veio a se apresentar e iniciar a sua participação no campeonato rumo a grande final que será realizado na cidade da matriarca dos Velosos, Santo Amaro da Purificação- BA.
Contudo chegando o grande momento de se apresentar em Salinas da Margarida- BA etapa classificatória intitulada de XVII- CONFANSAM onde a mesma foi realizado no dia 17 de setembro do corrente ano onde a FAMUIBI fez a sua participação no Grupo Musical Simples obtendo uma pontuação de 315 ponto, pontuação está que não alcançadas pela suas concorrentes, para o Presidente da FAMUIBI o Srº Sandro Laerth Souza dos Santos Filho, "este é o momento que temos que mostrar o nosso trabalho que vêem sendo desenvolvido com estes jovens músicos durante o ano letivo, sendo um momento impar que os mesmos têm de conhecer outras corporações e bandas". Esperamos com fé em Deus classificarmos a FAMUIBI para a grande final e fazermos uma festa única consagrando-se Campeã Baiana no ano de seus 20 anos de caminhada na formação de músicos.
Na oportunidade os nossos sinceros agradecimento a Prefeitura Municipal de Ibirataia, Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, Colégio Municipal José Firmino da Silva, Colégio Municipal Paulo Souto, Colégio Estadual Dr. Antonio Carlos Magalhães e principalmente ao Presidente da Câmara Municipal de Vereadores pelo apoio que vem nos dando durante esta o campeonato.
A FAMUIBI conseguiu nesta etapa se consagrar-se campeã no CÍVICO, COREOGRAFIA, REGENTE, BALIZADOR E MOR, contudo podemos dizer que o incentivo e o reconhecimento por parte da comunidade para nós é de suma importância, por contribuindo com a formação de nossos alunos.

Haddad anuncia que serão gratuitos os mestrados e doutorados em educação

Cursos de pós-graduação, mestrados e doutorados em educação, mesmo em instituições privadas, serão gratuitos. O anúncio foi feito pelo ministro Fernando Haddad, na tarde desta sexta-feira, 30, durante o 7º. Congresso Inclusão: Desafio Contemporâneo para a Educação Infantil, promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Unidades de Educação Infantil da Rede Direta e Autárquica do Município de São Paulo (Sedin). 

Haddad explicou que deve assinar nos próximos dias uma portaria que dará a esses cursos o mesmo mecanismo do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). Os professores que decidirem fazer o curso e trabalharem nas redes públicas terão a dívida saldada automaticamente. O ministro da Educação admitiu que trabalha com dificuldade em um modelo de avaliação para a educação infantil. “Faço um desafio para vocês. Me mostrem os casos de sucesso e de eficiência para que possamos tabular esses valores.”Haddad creditou ao presidente Lula a inclusão da educação infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), além do fornecimento de merenda, transporte escolar, biblioteca e livro didático. “O que mais me impressionou quando eu cheguei ao Ministério da Educação foi a constatação de que não só não havia mecanismos de financiamento, como não se dava importância a um ciclo tão importante da formação da criança.” O ministro lembrou da emenda constitucional que tornou obrigatória a educação dos quatro aos 17 anos e qualificou o Programa de Reestruturação da Rede Escolar Pública (ProInfância) como o maior programa de expansão da rede física educacional. “A presidenta Dilma conveniou 4 mil creches e destinou recursos para 6.400 creches em todo o pais, 172 apenas na cidade de São Paulo. Além disso, o Ministério da Educação vai se responsabilizar pelo primeiro ano de custeio antes do censo” – concluiu.

Assessoria de Comunicação Social

sábado, 10 de setembro de 2011

"A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender"

A afirmação é do professor José Manuel Moran. Ele fala sobre o uso da Internet na educação, fundamentado seu pensamento na "interação humana", 
de forma colaborativa, entre alunos e professores.


José Manuel Moran é um dos maiores especialistas brasileiros no uso da Internet em sala de aula. Por isso, não se espere dele o deslumbramento do marinheiro de primeira viagem. Timoneiro experiente, ele conduz o barco devagar. Para o educador que acessa a rede pela primeira vez, ele adverte que nem sempre a maré está para peixe. "A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo com experiências reais". A tecnologia é tão-somente um "grande apoio", uma âncora, indispensável à embarcação, mas não é ela que a faz flutuar ou evita o naufrágio. "A Internet traz saídas e levanta problemas, como por exemplo, saber de que maneira gerenciar essa grande quantidade de informação com qualidade", insiste. 

A questão fundamental prevalece sendo "interação humana", de forma colaborativa, entre alunos e professores. Continua a caber ao professor dois papéis: "ajudar na aprendizagem de conteúdos e ser um elo para uma compreensão maior da vida". Se o horizonte é o mesmo, os ventos mudaram de direção. É preciso ajustar as velas e olhar mais uma vez a bússola. E José Manuel Moran foi traçar rotas em mares nunca dantes navegados. A novidade é que "hoje temos a possibilidade de os alunos participarem de ambientes virtuais de aprendizagem". O grande desafio é "motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala de aula". 

Os educadores que não quiserem se lançar ao mar, muito apegados à terra firme, poderão ficar a ver navios. Mas não há mais porto seguro: o oceano de informações que a Internet disponibiliza aos alunos obrigará os professores a se atualizar constantemente e a se preparar para lidar com as múltiplas interpretações da realidade. Espanhol que atracou no Brasil, Moran abandonou por alguns momentos sua tripulação do curso de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP e nos concedeu esta entrevista. 

O senhor diz que não se deve esperar soluções mágicas da Internet. Que expectativas devemos ter das novas tecnologias na educação? 

Prof. José Manuel Moran - Nós esperamos que a tecnologia — teoricamente mais participativa, por permitir a interação — faça as mudanças acontecerem automaticamente. Esse é um equívoco: ela pode ser apenas a extensão de um modelo tradicional. A tecnologia sozinha não garante a comunicação de duas vias, a participação real. O importante é mudar o modelo de educação porque aí, sim, as tecnologias podem servir-nos como apoio para um maior intercâmbio, trocas pessoais, em situações presenciais ou virtuais. Para mim, a tecnologia é um grande apoio de um projeto pedagógico que foca a aprendizagem ligada à vida. 

Apesar de ser professor de novas tecnologias, o senhor acredita que, antes disso, há uma mudança mais urgente a ser feita no modelo de educação. Qual seria essa mudança? 

Prof. José Manuel Moran - O que estamos vendo é que formas de educar com estrutura autoritária não resolvem as questões fundamentais. A questão não é tecnológica, mas comunicacional. A tecnologia entra como um apoio, mas o essencial é estabelecer relações de parceria na aprendizagem. Aprende-se muito mais em uma relação baseada na confiança, em que alunos e professores possam se expressar. Criar e gerenciar esse ambiente é muito mais importante que definir tecnologias. Embora eu trabalhe com elas, noto que o foco está na interação humana, presencial ou virtual. Preocupa-me muito a dificuldade que temos em estabelecer relações participativas, porque todos nós carregamos estruturas tremendamente autoritárias, sendo submissos ou dominadores, e reproduzimos isso na escola. A cultura da imposição, do controle, é talvez a barreira mais difícil de derrubar no processo pedagógico. 

O senhor faz uma distinção entre ensino e educação, esta última sendo a integração do ensino com a vida. É evidente a maneira como as novas tecnologias podem contribuir para o ensino. Mas como elas podem contribuir para a educação? 

Prof. José Manuel Moran - Quando falamos de ensino, focamos a aprendizagem de alguns conteúdos. A educação é um processo muito mais integral, que nos ocupa a vida toda, e não somente quando estamos na escola. E o professor tem esses dois papéis: ajudar na aprendizagem de conteúdos e ser um elo para uma compreensão maior da vida, de modo que encontremos formas de viver que nos realizem e desenvolvam nossas capacidades. Isso não depende da tecnologia, mas da atitude profunda do educador e do educando, de ambos quererem aprender. A tecnologia pode ser útil para integrar tudo que eu observo no mundo no dia-a-dia e para fazer disso objeto de reflexão. Ela me permite fazer essa ponte, trazer os conteúdos de forma mais ágil e devolvê-los de novo ao cotidiano, possibilitando a interação entre alunos, colegas e professores. 

Uma de suas experiências mais bem-sucedidas consiste em partilhar os resultados das pesquisas escolares pela Internet. Que mudança isso provoca no rendimento dos alunos? 

Prof. José Manuel Moran - É uma concepção do aprender de forma cooperativa e não competitiva. A aprendizagem estava muito voltada só para conseguir notas, ver quem chegava primeiro. Dentro dessa visão — que não se dá apenas com a tecnologia, mas também na sala de aula comum —, a proposta é colocar a interação na prática. Hoje temos a possibilidade de os alunos participarem de ambientes virtuais de aprendizagem, tanto de uma forma simples, publicando um trabalho em uma página, quanto criando debates, fóruns ou listas de discussão por e-mail. Cada escola e cada professor, dependendo do número de alunos que ele tenha ou da situação tecnológica em que se encontra, pode buscar soluções mais adequadas. O importante é o foco, que o aluno e o professor sejam estimulados a fazer parte de um espaço virtual de referência que disponibilize o que é feito em sala de aula. Eu creio que essa área de visibilidade liberta a sala de aula do espaço e do tempo físico. Porque depois, fora da aula, pode-se encontrar um pouco do que foi dito pelo professor, o que foi feito pelos alunos. 

O senhor afirma que as novas tecnologias exigem muito esforço dos professores e, por outro lado, defende que "o aluno já está pronto para a Internet". Em que aspectos o aluno estaria em vantagem em relação ao professor? 

Prof. José Manuel Moran - Ele é privilegiado na relação que tem com a tecnologia. Ele aprende rapidamente a navegar, sabe trabalhar em grupo e tem certa facilidade de produzir materiais audiovisuais. Por outro lado, o aluno tem dificuldade de mudar aquele papel passivo, de executor de tarefas, de devolvedor de informações. Na prática, acaba assumindo um papel bastante passivo em relação às suas reais potencialidades. O aluno tem capacidade de ir muito além, ele está pronto. Porém, a escola impõe modelos autoritários, voltando ao começo, quando o professor controlava e o aluno executava. E isso não o motiva. Por isso, a mudança mais séria deve vir mesmo dos professores. O novo professor dialoga e aprende com o aluno. Isso pressupõe uma certa humildade que nos custa como adultos a ter. Nós queremos ter a última palavra. 

Novamente baseado em suas experiências em sala de aula, o senhor observa que muitas vezes a navegação é mais sedutora que o trabalho de interpretação e concentração que a pesquisa exige e o professor deve estar atento para evitar que os alunos sejam muito dispersos em suas pesquisas. Isso significa que o professor terá, diante da tecnologia, de reproduzir o modelo de controle a que o senhor se opõe? 

Prof. José Manuel Moran - Essa é uma questão difícil de resolver na prática. Muitos alunos estão numa fase da vida ainda de deslumbramento, estão curiosos. Eles não têm organização e maturidade para se concentrar em um só tema durante uma hora. Então eles abrem mil páginas ao mesmo tempo, se deixam naturalmente seduzir por certos temas musicais ou eróticos, conforme a sua idade. Esse conjunto de questões dificulta o trabalho com um tema específico. Essa também não é uma questão meramente da tecnologia ou do professor, mas da dificuldade de concentração diante de tantos estímulos. 

Há um paradoxo nessa questão. Há uma quantidade de informação quase inesgotável acessível pela Internet. Por outro lado, quando se é confrontado com esse volume de informação, há a tendência de dedicar menos tempo à análise pela compulsão de navegar e descobrir novas páginas. Como se pode contornar isso? 

Prof. José Manuel Moran - Em primeiro lugar, reconhecendo que há uma grande dificuldade. A Internet traz saídas e levanta problemas, como, por exemplo, saber de que maneira gerenciar essa grande quantidade de informação com qualidade e como encontrar no pouco tempo que temos em sala de aula, ou na interação via Internet, algo que seja significativo, que não seja somente lúdico. Porque o que interessa é se essa navegação me leva a uma compreensão maior da realidade. Do ponto de vista metodológico, procuro um equilíbrio: nem impor demais o processo, que amarra o aluno, nem deixar que as coisas aconteçam a seu bel-prazer. Eu trabalho com dois momentos. No primeiro, mais aberto, eu coloco um tema em discussão e o aluno procura a informação por si. Depois de um certo tempo, passamos a partilhar o resultado das pesquisas, focamos um determinado artigo ou outro material, para que não fique muito disperso. Mas é importante que os alunos não atendam somente a uma determinação prévia do professor. Creio que esse pode ser um caminho para minimizar a clara tentação de dispersão na pesquisa via Internet. A Internet reforça a tendência dispersiva que os alunos têm no cotidiano, quando eles ficam estudando e ouvindo música, tudo ao mesmo tempo. 

Outro equilíbrio que o senhor considera difícil de alcançar é entre o deslumbramento dos alunos pelas novas tecnologias e a resistência de alguns dos professores a esses novos métodos de acesso à informação. 

Prof. José Manuel Moran - Eu percebo que as atitudes vão mudando aos poucos, que já houve resistência maior. Mas há professores que inconscientemente fazem o mínimo possível para utilizar a tecnologia, no máximo usam o Word. Eles não usam técnicas de pesquisa ou de apresentação mais avançadas em sala de aula, nem trabalham com criação de páginas. Então há uma parte dos professores de escolas particulares que, mesmo tendo laboratórios e acesso à Internet, resistem a métodos que não sejam tradicionais. Por outro lado, há os que descobrem as novas mídias e esquecem uma série de formas que podem ser interessantes em sala de aula, preferindo sempre jogar os alunos no laboratório, como se fosse uma grande solução. A Internet nos ajuda, mas ela sozinha não dá conta da complexidade do aprender hoje, da troca, do estudo em grupo, da leitura, do estudo em campo com experiências reais. Equilibrar o melhor do ensino presencial, o estarmos juntos, e o melhor do espaço virtual é básico. Mas ninguém teve experiência até agora com o equilíbrio desses ambientes. Antes aprendíamos juntos apenas em sala de aula, e o aluno tinha de se virar para fazer suas atividades quando não estava na escola. Hoje podemos aprender quando não estamos fisicamente juntos. 

O senhor atribui essa resistência ao fato de as novas tecnologias colocarem em xeque a posição do professor como detentor do saber. O aluno pode facilmente pesquisar algum tema e ver que há interpretações divergentes e que aquilo que o professor fala pode não ser bem assim. O senhor sente esse receio nos professores com os quais convive? 

Prof. José Manuel Moran - O professor, desde que surgiu o livro, sempre teve um pouco de receio de que o aluno aprendesse outras versões além da dele. Só que hoje você tem muitas outras formas de informações em qualquer mídia, e a Internet agrava ainda mais a sensação de que o aluno pode encontrar informações que o professor não tem. Para o professor inseguro, é uma espécie de desafio encontrar uma prática que não seja a do controle. A tentação desse tipo de professor é fechar em cima de uma única versão. O professor mais maduro trabalha com múltiplas visões, tentando relativizar nosso conhecimento, mostrando que estamos construindo algo que é provisório. A nossa visão agora é esta: eu aprendo com o que o outro me traz. Essa visão é muito mais tranqüila. É a aceitação de que eu não sou onipotente, que não tenho respostas para tudo, não sou enciclopédia. Eu aprendo melhor reconhecendo a minha ignorância. 

O senhor insiste em seus textos na importância da maturidade do professor ao lidar com a tecnologia. Quais são as experiências mais maduras que conhece de uso da Internet em sala de aula? 

Prof. José Manuel Moran - Hoje há muitas escolas que estão tentando encontrar saídas. O que a maior parte delas faz é colocar os alunos em contato com a Internet em laboratórios e depois buscar atividades principalmente entre grupos que não estão fisicamente juntos. No mundo inteiro se trabalha com esse tipo de projeto. A etapa mais avançada, que começa agora na minha opinião, é desenvolver o conceito de gerenciamento de aula, integrando o que é feito pelos alunos quando estão juntos e fazendo com que o processo de aprendizagem continue quando eles não estão mais juntos. Hoje há uma série de programas de gerenciamento de ambientes virtuais que ajudam a trazer temas para a sala de aula. No fundo, é uma página incrementada com ferramentas de chat e de fórum em que os alunos vão colocar seus textos. Há uma série de softwares como o Eureka, o First Class, o Web Ct e o Blackboard. 

De que forma o senhor utiliza esses ambientes virtuais mais integrados em seu processo pedagógico? 

Prof. José Manuel Moran - Coordeno um curso de pós-graduação semipresencial em que, em alguns momentos, nós nos encontramos e, em outros, interagimos somente através da rede: apresentamos textos, discutimos questões. Temos a relação de uma aula presencial para duas virtuais. É o desafio que vamos enfrentar pelo menos no nível superior, fase em que os alunos não precisam ir todos os dias à aula. O desafio é motivá-los a continuar aprendendo quando não estão em sala de aula. Também estou coordenando programas de educação a distância em São Paulo. Educar a distância, mas de uma forma em que haja troca e não somente repasse de informação, que não seja somente colocar conteúdo em uma página e depois cobrar uma atividade. Estimular o aluno a aprender em ambientes virtuais é outro grande desafio pedagógico que temos hoje. Haverá muita "picaretagem" de instituições que pensam que educação a distância é uma forma de ganhar dinheiro. 

O que o senhor teria a dizer a um diretor de escola pública, carente de recursos e com professores que nem sempre são os mais bem qualificados? Nessas circunstâncias é mais indicado investir em tecnologia ou centrar-se na capacitação de professores? 

Prof. José Manuel Moran - Eu acho que não podemos mais ficar apenas nos lamuriando da falta de condições. É verdade que um diretor de escola não pode fazer nada sozinho. Isso exige vontade e investimentos públicos nos três níveis. Estou coordenando uma equipe que desenvolve um programa de educação a distância na rede pública estadual de São Paulo para capacitar professores, supervisores de ensino e pessoas que trabalham em Oficinas Pedagógicas (OTP). São profissionais que estão mais em contato com novas tecnologias. Na verdade estamos fazendo a capacitação em serviços a distância, juntando a Secretaria de Educação e a Universidade de São Paulo, através de uma fundação chamada Vanzolini, com o apoio do governo federal, do ProInfo. 
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Para saber mais sobre o professor José Manuel Moran:
URL: http://www.eca.usp.br/prof/moran
E-mail: jmmoran@usp.br 

Caminhos para a nossa realização


Texto do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008, p.75-79.

Gerenciar nossa complexidade

Quem pode conhecer os múltiplos caminhos do ser humano?

Há mil possibilidades de realização e de fracasso. A vida nos ensina a não aplicar a todos situações individuais, localizadas. Queremos que todos caibam nos nossos moldes mentais. Avaliamos os outros a partir das nossas idéias. Há algo de universal em cada pessoa. Mas há também algo de especificamente pessoal, de diferente, em todo processo de generalização.

Alguns têm tudo para ser felizes – riqueza, beleza, cultura – e , por vezes, os vemos profundamente insatisfeitos, irrealizados.Outros têm tudo para ser infelizes – pobres, sem grandes atrativos, sem estudos – e vivem com garra, força, de forma otimista.

Vemos irmãos, com a mesma educação, que pensam e vivem de forma totalmente diferente. Relacionamentos que parecem ideais, em que todos apostam, às vezes viram um fiasco e outros, de pessoas que nada têm em comum, inexplicavelmente dão certo.

Cada um de nós tem uma grande margem de mistério para os outros e para nós mesmos. Não somos capazes de conhecer todas as nossas possibilidades e reações; como podemos acreditar que conhecemos as dos outros?

Que caminhos seguir?

Todos os caminhos são importantes se nos ajudam a crescer como pessoas, a compreender melhor, a realizar-nos mais, a vivenciar formas mais ricas de comunicação e amor.

O melhor que podemos fazer pela sociedade, pelo mundo, pela família e por nós mesmos é sermos pessoas mais evoluídas, mais maduras, mais humanas.
Podemos conhecer mais e experimentar novas formas de viver, pela ação e pela reflexão, pela intensa comunicação com pessoas e pelo isolamento, pela adesão a uma religião ou a uma filosofia humanista.

Ninguém tem o monopólio de como chegar ao conhecimento ou às chaves da realização pessoal.
1.  Uns podem chegar à realização pelo sofrimento – quando sabem enfrentá-lo
2.  Outros, pelo contato com pessoas interessantes, por leituras estimulantes ou pelo estudo.
3.  Uns, por formas diferentes de vivências religiosas: meditam, fazem ioga, se isolam, rezam
4.  Outros organizam eventos, promovem ações concretas, visíveis, coordenam ou participam de vários grupos...
Qualquer situação ou interação pode ajudar-nos a evoluir, dependendo de como a encaramos. Tudo pode ser-nos útil para o contínuo crescimento, se conseguimos incorporá-lo à nossa vida como aprendizado, como incentivo, como um degrau a mais; se sabemos superar o que tenta prender-nos, o que tenta desvalorizar-nos, humilhar-nos, derrotar-nos.Todos os caminhos são bons se nos ajudam a evoluir. Há porém, caminhos destrutivos: a fuga, a alienação, a humilhação, a emoção contínua negativa, a comunicação inautêntica.Cada um de nós descobrirá que pode combinar e equilibrar ação e reflexão, leituras e práticas, isolamento e interação, humanismo e religiosidade, a partir das características pessoais, da sua própria trajetória do passado até o presente, do seu universo mental e emocional específico.
Avançaremos mais se aprendermos equilibrar planejamento e criatividade; organização e inovação; gerenciamento responsável e abertura para o novo, para o inesperado.

Daremos saltos de qualidade no conhecimento se estivermos atentos aos múltiplos signos da vida. A vida é como um lento desfolhar de novos sentidos, de novos significados: cada camada descoberta nos leva a novas perspectivas, ao aprofundamento de novas dimensões.

Viver nesta atitude de desvendamento revelador é uma das experiências mais gratificantes que o ser humano pode sentir.Encontraremos os melhores caminhos se sempre estivermos serenamente atentos para aprender, abertos para a novidade de viver cada dia da melhor forma possível, em cada momento, agora; atentos para o incentivo, para o apoio pessoal e interpessoal, para não nos deixar empolgar demais com os sucessos nem nos abater com os problemas e eventuais “fracassos”.

Encontraremos os melhores caminhos se soubermos aprender com cada circunstância que se nos apresente e se estivermos atentos a tantas formas bonitas de aprender a crescer. Vamos fazer a nossa parte e deixar fluir, dar margem ao imponderável.
  • Ficar abertos para o novo. Aceitar as surpresas da vida, o que não esperávamos, tanto o “positivo” como o “negativo”.
  • Monitorar nossas vidas com carinho, afeto, atenção. Aceitar-nos plenamente, continuamente, incondicionalmente. Aceitar o que fomos, o que somos, o que seremos.
  • Rever o nossa passado como etapas de grande aprendizado, de evolução. Aceitá-lo como nosso, como algo que está em nós. Estar atentos aos sinais de impaciência, de crítica, de desânimo, de depressão.
  • Não nos obrigar a carregar pesos insuportáveis. Assumir os descontroles eventuais, a perda de sentido, as indefinições. Apoiarmo-nos sempre, esperar sempre, confiar sempre.
  • Incentivar-nos, dialogar permanentemente consigo mesmo, buscar apoio nas dimensões misteriosas do nosso universo, em tantas forças que interagem conosco, para poder perceber mais e mais a complexidade que nos rodeia.
  • Acreditar sempre em nós mesmos, em nosso fluir como pessoas, que há um sentido maior para o nosso dia-a-dia, que tudo contribui para o nosso aprendizado e para o nosso aperfeiçoamento.
  • Viver no presente, atentos ao futuro, mas sempre valorizando o que está acontecendo no aqui e agora, que nos acompanha e podemos transcender, mas nunca negar.
  • Procurar viver com simplicidade, menos apegados aos bens e ao poder. Ir na contramão do consumismo, da posse, da ostentação.
  • Ir na contramão da tendência de possuir, acumular, juntar, multiplicar bens, de ter de lucrar sempre, o mais possível, obsessivamente; das tendência de ostentar, mostrar status, luxo, poder, alto padrão de vida; da tendência de consumir, ter de comprar, de necessitar sempre de roupas, novidades, modas.
  • Ter o necessário e procurar necessitar de cada vez menos coisas. É importante ter sem possuir, sem apegar-nos, sem deixar-nos dominar pelos objetos, pessoas, pelo desejo do que não é nosso.
  • Comunicarmos da forma mais autêntica e aberta possível, colaborando para que haja maior entendimento e confiança. Manter um diálogo permanente com tudo que nos rodeia.
  • Contribuir para que haja um clima mais harmônico ao nosso lado, para sermos elementos de união, e não de discórdia.
  • Pedir desculpas a nós mesmos e desculpar-nos quando erramos, quando nos perdoamos, quando cometemos injustiças, críticas exageradas, julgamentos apressados. Viver no ritmo possível, no tempo possível, nas formas possíveis.
  • Mudar os aspectos da nossa vida até onde formos capazes, para encontrar nossa identidade, nosso estilo, nossa forma de comunicação e de gestão.
O importante é estar vivenciando continuamente processos de liberdade e de realização, em todas as dimensões, na medida em que formos capazes, em cada momento das nossas vidas.

Assim iremos nos tornando pessoas mais livres, marcantes e realizadas.

Diferentes formas de relacionamento


Texto do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008, p.50-52.

No relacionamento com os outros nos revelamos, descobrimos, aprendemos, ensinamos. Expressamos nos relacionamentos como nos vemos, o que somos, o que tememos, em que estágio estamos de desenvolvimento e realização. Encontramos todas as formas e graus de relacionamento. Uns vivem sozinhos, isolados; outros se relacionam de forma superficial, previsível, padronizada, enquanto que alguns conseguem comunicar-se de forma mais autêntica e plena. Há isolamentos produtivos e outros destrutivos.

Algumas formas de isolamento ajudam: períodos de reencontro consigo mesmo, de busca do equilíbrio, de novas sínteses. Cada pessoa tem sua forma de isolar-se. É importante que cada um encontre a forma confortável de estar consigo, de reencontrar-se, de reequilibrar-se.

Algumas experimentam formas mais ou menos graves de isolamento, de dificuldade em comunicar-se, de confiar seus sentimentos ao outro. Para essas pessoas o relacionamento é ameaçador, fruto, talvez, de experiências frustrantes prévias, de medo do fracassar, de serem traídas, de serem enganadas...
Geralmente o isolamento provoca formas de intenso reforço do imaginário, da fantasia, dos mecanismos projetivos, da comunicação virtual (comunicação por chats e outras formas que não exijam o contato físico).

Muitas pessoas desenvolvem formas de relacionamento relativamente satisfatórias, que preenchem algumas carências, dão segurança, conforto, apoio.

Algumas formas são mais superficiais, aparentes, ocasionais.

Outras avançam um pouco mais: conseguem manter um certo equilíbrio, se complementam em alguns pontos, mantêm uma atitude cooperativa, se revelam parcialmente, mas encontram dificuldade em vivenciar formas mais ricas de troca, de confiança, de conhecimento. 

A sociedade nos padroniza, abaixa nossas expectativas, nos mediocriza, nos induz a contentar-nos com pouco, com a exterioridade, com as aparências, com a superficialidade das coisas. Na sociedade é mais importante parecer do que ser, fingir do que mostrar-se verdadeiramente. Muitos relacionamentos são mais aparentes do que reais, mais superficiais do que profundos, mais acomodados do que criativos. Se o outro nos incomoda é sinal de que mexe em questões mal resolvidas dentro de nós. Culpar o outro pelo fracasso, pelos nossos problemas é a saída mais fácil e inútil. O outro pode contribuir, sem dúvida, para a deterioração do relacionamento. A questão é por que nós continuamos em relacionamentos problemáticos ou por que determinadas situações nos afetam tanto.O relacionamento entre duas pessoas pode ser o caminho para a realização mais plena ou para uma das maiores formas de tortura já inventadas até hoje. 

Todos temos muitas possibilidades que deixamos de lado. Acreditamos que não vale a pena ir além, que a "vida é assim mesmo", que o normal é isso, que já sabemos o suficiente para continuar agindo.

É importante aprender a quebrar as rotinas, os padrões, para buscar novas dimensões, desafios, percepções. 

Algumas pessoas - é difícil precisar o seu número, mas certamente não são a maioria - conseguem desenvolver relacionamentos profundos, duradouros, de crescimento na compreensão, conhecimento e intercâmbio em níveis cada vez mais ricos, que integram o sensorial, o intelectual, o emocional e o transcendental. É um relacionamento maduro, de pessoas em processo de tornar-se mais e mais livres e que realizam trocas mais avançadas baseadas na comunicação confiante e autêntica.

Aprendendo com o fracasso


Texto complementar do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed.
São Paulo:Paulinas, 2008.




Uma das experiências mais difíceis é aceitar que falhamos em algo que para nós tinha importância. Que um relacionamento em que apostávamos, fracassou. Que fomos avaliados negativamente ou demitidos de uma atividade em que pensávamos ser competentes.


Fracassar em áreas importantes para a nossa identidade como a afetiva ou a profissional sempre traz seqüelas. Um relacionamento longo que se desfaz, mexe com a nossa auto-estima, nos faz sentir inferiores, nos leva a olhar aos outros como mais perfeitos ("eles conseguem manter relacionamentos, por que eu não?"). A mesma situação se repete em relação a um emprego importante ("Por que eu tive que sair, se tantas ficaram?").

Muitas pessoas começam a definhar a partir de um fracasso importante. Não se recuperam de uma separação não desejada.

Se observamos toda a trajetória posterior constatamos como no fundo estavam reagindo a essa não aceitação do fracasso. A ferida, a mágoa ficou lá dentro, muitas vezes escondida, mas viva, agindo, provocando ressentimentos, doenças, perda de sentido.

A não aceitação do fracasso traz conseqüências desastrosas.

É difícil gostar intimamente de nós da mesma forma. Somos tentados a procurar culpados – o outro – ou, ainda pior –nós. Nem a acusação aos outros nos ajuda nem culpar-nos adianta.

Num processo afetivo há mil variáveis que interferem, do real e do imaginário, do passado e do presente.

Ficar remoendo antigas escolhas, possibilidades que não aconteceram, só complica. "E se eu tivesse feito..."

Todos sabemos que poderíamos ter tomado outras decisões, ter estado mais atentos a certas crises.

Só podemos olhar ao passado para aprender se o fizermos em clima de não cobrança, nem de nós nem do outro.

Podemos olhar como num videotape de um jogo de futebol não para punir-se pelas falhas, mas para perceber nossos mecanismos de sobrevivência, de relacionamento e aprender a melhorá-los.

E, se mesmo assim, a ferida estiver lá, se a dor continuar é importante reconhecê-la, aceitá-la, incorporá-la, não escondê-la.

Tudo o que escondemos, só nos complica.

Esconder o fracasso, a dor, a mágoa só os torna maiores, mais fortes e complicados.

Quem admite um fracasso mostra coragem para enfrentar mudanças. Muitos relacionamentos estão tanto ou mais fracassados e nem assim essas pessoas se atrevem a encará-los. Fazem mil ginásticas para ocultar o óbvio.

Aprender a fracassar, a enfrentar os insucessos é um dos caminhos para aprender a viver, a crescer, a encontrar novas formas de conviver com os outros, novas formas de trabalho e de atividade profissional.

O foco fundamental é tentar ir modificando-nos, até onde nos for possível, incorporando o fracasso como uma etapa da vida, como uma experiência de aprendizagem.

Aprendendo a viver


Texto do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008, p.81-83.


É importante procurar encontrar o sentido atual para a vida, o sentido do momento presente, encontrar o que dá significado ao nosso viver hoje.

Procuraremos fazer foco em atividades significativas. Esse foco pode mudar. Encontrar um sentido fundamental muda de pessoa para pessoa, de uma etapa para outra, mas é o que significa o viver, o que harmoniza nossa vida, que lhe confere uma nova dimensão.

Estaremos atentos para rever esse foco, essas atividades, esse sentido, para não ficar repetindo gestos vazios, fugas permanentes ou perda de novas descobertas.

O que é mais importante para nós hoje? Vamos defini-lo e seguir em frente e mais tarde reavaliaremos esse foco com simplicidade e honestidade.

A vida vai se revelando aos poucos, nas nossas inúmeras tentativas de entendê-la de experimentar caminhos, de estabelecer contatos, atividades. Cada coisa que fazemos, cada pessoa que conhecemos, cada leitura que nos chama a atenção traz contribuições para ampliar algum aspecto do nosso cotidiano e nos impulsiona a reavaliar algumas das nossas dimensões.

Esse é o lado fascinante e problemático do viver. Aprendemos de uma forma e, quando pensamos que “agora já sabemos”, temos de mudar, enxergamos novas perspectivas. Isso nos decepciona e ao mesmo tempo nos estimula.

Viver é estar sempre em permanente estado de construção, de readaptação, de aprendizado. Às vezes é doloroso, porque nos sentimos inseguros, perdido, vagando sem rumo.

Um pouco mais adiante encontramos novamente o significado do que estava solto, disperso, perdido. Pensamos: agora sim estamos nos trilhos, e mais tarde descobrimos que há novos ajustes a fazer, novas perdas de sentido e novas readaptações e ressignificações.

O curioso é que cada pessoa realiza este processo de um jeito, dentro da sua história pessoal, da sua própria complexidade. Por isso é tão importante aprender a viver e termos pessoas que nos ajudem a aprender a organizar melhor a nossa vida.

Vale a pena viver no ritmo das nossas descobertas, sem sofreguidão, impaciência ou ingenuidade, mas também enfrentando os medos, atentos a tudo, aprofundando a percepção do que nos é possível, desvendando novos níveis de compreensão de tudo o que vemos, ouvimos, sentimos, desejamos, amamos.

Aprender a confiar que tudo tem um sentido para a nossa construção como pessoas, que há um universo enigmático, muito superior à nossa capacidade de compreensão; que há muitas interferências que estão além da nossa imediata percepção, que muitos eventos, pessoas, situações podem contribuir para a ampliação do nosso conhecimento, para a nossa humanização.

Tentaremos aprender a desvendar uma parte deste nosso universo tão cheio de mistérios. Estaremos atentos a interpretar os sinais que mostram novos níveis de significação, com equilíbrio, sem acreditar ingenuamente em qualquer explicação ou pessoa, sempre abertos a novas revelações.
 
Podemos transformar a nossa vida em um paciente, emocionante e confiante processo de aprendizagem. Aprender a aceitar-nos plenamente como somos, sem mentir, sem procurar pretextos, sem buscar culpados. Ao aceitar-nos, começamos a mudar nossa vida.

Procurar fazer o melhor que sabemos em cada momento, sem cobranças negativas, sem expectativas irreais, sem pressões insuportáveis.

Viver no presente, no ritmo possível, no tempo possível, nas formas possíveis.
Vivemos melhor quando procuramos integrar tudo, relacionar tudo, com confiança e com humildade. Com a confiança de que podemos ir muito além de onde estamos, de que podemos realizar-nos em todas as dimensões da vida.

Com humildade, cientes de que somos frágeis, de que pouco conhecemos realmente, de que há uma margem enorme do imponderável, de situações "inexplicáveis", de encontros imprevistos. De que dependemos de muitas ajudas também para ir adiante. Se equilibramos a incerteza e a confiança encontraremos nossos melhores caminhos.

Viver é escolher e renunciar, avaliar e, ao mesmo tempo, reconhecer que nunca temos a certeza das decisões, porque não sabemos o que aconteceria com as outras escolhas que deixamos de lado.

Só mudaremos a sociedade, mudando as relações pessoais, interpessoais, comunitárias e sociais. O mundo só terá paz efetiva quando muitas pessoas e grupos viverem formas avançadas de comunicação, de intercâmbio aberto, de informação, de apoio, de comportamento ético.

Aprendemos na incerteza


Texto do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008, p.33-35.


Queremos ter certezas e vivemos sempre na incerteza. Buscamos verdades absolutas e percebemos que tudo muda, é relativo, que tem ângulos. É doloroso constatar nossa ignorância fundamental.

Somos como uma lancha no meio de um oceano: temos de decidir o rumo com poucos instrumentos de navegação; conhecemos alguns “macetes”, temos algumas experiências consolidadas, mas há uma grande margem de insegurança em cada opção, em qualquer campo, em qualquer momento. Não temos garantias definitivas. Temos algumas certezas e muitas incertezas.

De tudo, de qualquer situação, leitura ou pessoa podemos extrair alguma informação, experiência que pode nos ajudar a ampliar o nosso conhecimento, seja para confirmar o que já sabemos, seja para rejeitar determinadas visões de mundo ou para modificar o seu enfoque.

Viver é ir aprendendo a decidir da forma mais tranqüila possível entre mil possibilidades, que na sua grande maioria não se realizarão. É ir escolhendo e renunciando; ir avaliando e, ao mesmo tempo, reconhecendo que nunca temos a certeza das decisões, porque não temos a experiência do que aconteceria com as outras escolhas que deixamos de lado.

Viver é buscar permanentemente o sentido que se constrói no dia-a-dia, nas pequenas decisões. Sentido que vai revelando seu desenho em alguns momentos marcantes ou quando conseguimos enxergar mais do alto, momento em que obtemos uma perspectiva mais abrangente.

Esses momentos são fortes e nos ajudam a tentar ampliar os significados ocultos do cotidiano, quando tudo parece tão banal e repetitivo.
  • Podemos aprender a desvendar, a compreender e a aceitar os caminhos que já percorremos. Aprender a compreender e a aceitar as escolhas atuais, a permanente dúvida de estar acertando nas decisões, a incerteza do que deixamos de lado, do que poderíamos ter sido, ter feito, ter tentado. Equilibrar a manutenção de uma estrutura básica constante e de inúmeras pequenas escolhas novas, que acrescentam riqueza ao nosso presente, mas também trazem tensões e inseguranças.

  • Podemos aprender a compreender que, ao viver entre a segurança do já conhecido e a insegurança do novo, estaremos sempre abrindo novas perspectivas. E isso implica ganhos e perdas, envolve ampliação do nosso repertório e possível perda de síntese, gera dúvidas quanto a que decisões serão as melhores.

  • Podemos aprender a aceitar o fato de que viver é uma permanente prática de escolhas, de ganhos, de renúncias, de acertos e de erros, com os quais vamos construindo nosso mosaico, nosso caminho. E aceitar a precariedade de descobrir o que é permanente nas escolhas provisórias.

  • Podemos aprender a confiar em nós, quando estamos no meio de ondas gigantescas que nos jogam para todos os lados, principalmente para o chão, quando nos sentimos sacudidos por todas as partes, desorientado, sem saber para onde ir.

Somos tentados, com freqüência, a “mudar”, a “sair dos nossos trilhos”, escolhendo de forma radical o oposto do que fazemos. É difícil avaliar se são alternativas de mudança ou fugas. Há mudanças que nos ajudam a crescer e outras que nos tiram de nosso eixo.

Muitas pessoas, diante da confusão e incerteza das escolhas, optam por “viver o momento”, por “não pensar”, por “curtir a vida”. Transformam seus dias em um agito permanente, em uma movimentação feérica  atrás de gratificações contínuas. Mas percebe-se, numa análise mais profunda, que essa opção não é fruto de escolhas conscientes, mas de uma atitude fundamentalmente desesperada diante da vida. Correm para não terem que se enfrentar. Correm, porque intimamente não aceitam a si mesmas, não se gostam.

Aprendemos a viver quando navegamos na incerteza e, ao mesmo tempo, confiamos na nossa bússola, procuramos aprimorá-la e não punimos a nós mesmos por erros de pilotagem, mas, ao contrário, aprendemos com eles. Se equilibrarmos a incerteza e a confiança, encontraremos nossos melhores caminhos.

Viver significa estar de olhos abertos, aceitar-se, enfrentar decisões contraditórias e ir verificando se no todo estamos crescendo em paz e em relação. É constatar se, mesmo em situações não ideais, precárias, nós nos aceitamos melhor, se avançamos na compreensão de nós mesmos e do que nos rodeia, e se nos sentimos mais confiantes.