sábado, 10 de setembro de 2011

Aprendendo com o fracasso


Texto complementar do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed.
São Paulo:Paulinas, 2008.




Uma das experiências mais difíceis é aceitar que falhamos em algo que para nós tinha importância. Que um relacionamento em que apostávamos, fracassou. Que fomos avaliados negativamente ou demitidos de uma atividade em que pensávamos ser competentes.


Fracassar em áreas importantes para a nossa identidade como a afetiva ou a profissional sempre traz seqüelas. Um relacionamento longo que se desfaz, mexe com a nossa auto-estima, nos faz sentir inferiores, nos leva a olhar aos outros como mais perfeitos ("eles conseguem manter relacionamentos, por que eu não?"). A mesma situação se repete em relação a um emprego importante ("Por que eu tive que sair, se tantas ficaram?").

Muitas pessoas começam a definhar a partir de um fracasso importante. Não se recuperam de uma separação não desejada.

Se observamos toda a trajetória posterior constatamos como no fundo estavam reagindo a essa não aceitação do fracasso. A ferida, a mágoa ficou lá dentro, muitas vezes escondida, mas viva, agindo, provocando ressentimentos, doenças, perda de sentido.

A não aceitação do fracasso traz conseqüências desastrosas.

É difícil gostar intimamente de nós da mesma forma. Somos tentados a procurar culpados – o outro – ou, ainda pior –nós. Nem a acusação aos outros nos ajuda nem culpar-nos adianta.

Num processo afetivo há mil variáveis que interferem, do real e do imaginário, do passado e do presente.

Ficar remoendo antigas escolhas, possibilidades que não aconteceram, só complica. "E se eu tivesse feito..."

Todos sabemos que poderíamos ter tomado outras decisões, ter estado mais atentos a certas crises.

Só podemos olhar ao passado para aprender se o fizermos em clima de não cobrança, nem de nós nem do outro.

Podemos olhar como num videotape de um jogo de futebol não para punir-se pelas falhas, mas para perceber nossos mecanismos de sobrevivência, de relacionamento e aprender a melhorá-los.

E, se mesmo assim, a ferida estiver lá, se a dor continuar é importante reconhecê-la, aceitá-la, incorporá-la, não escondê-la.

Tudo o que escondemos, só nos complica.

Esconder o fracasso, a dor, a mágoa só os torna maiores, mais fortes e complicados.

Quem admite um fracasso mostra coragem para enfrentar mudanças. Muitos relacionamentos estão tanto ou mais fracassados e nem assim essas pessoas se atrevem a encará-los. Fazem mil ginásticas para ocultar o óbvio.

Aprender a fracassar, a enfrentar os insucessos é um dos caminhos para aprender a viver, a crescer, a encontrar novas formas de conviver com os outros, novas formas de trabalho e de atividade profissional.

O foco fundamental é tentar ir modificando-nos, até onde nos for possível, incorporando o fracasso como uma etapa da vida, como uma experiência de aprendizagem.

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