quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Educação Física Escolar Um direito de todos!


Mais uma vez a Educação Física Escolar foi pauta na Câmara dos Deputados. No dia 11 de maio, parlamentares, autoridades, estudantes e Profissionais de Educação Física, além de outros representantes da sociedade, estiveram presentes no Congresso Nacional, em Brasília-DF, para participar do Seminário “A Educação Física Escolar Especial, a Inclusiva e as Paraolimpíadas”.

Transmitido para todo o país através da TV Câmara – e sob a coordenação do conselheiro do CONFEF, Prof. Lucio Rogério dos Santos –, o evento foi promovido pela Comissão de Turismo e Desporto (CTD), por meio de requerimento dos deputados Otávio Leite (PSDB-RJ), Gilmar Machado (PT-MG) e Luciana Genro (PSOL-RS), em parceria com o Sistema  CONFEF/CREFs e o Sistema CNC/SESC/SENAC.

O objetivo do encontro foi ampliar a interlocução entre o universo da Educação Física nas escolas e os alunos com deficiência, buscando assegurar uma maior transmissão de valores esportivos aos meios escolares e expandir as ações voltadas para garantir o atendimento e a inclusão social das pessoas com deficiência.

No entanto, se depender do presidente do CONFEF, Prof. Jorge Steinhilber, o nome do seminário poderia ser simplificado.

“O nosso interesse é que não houvesse a Educação Física Escolar Especial, e sim apenas ‘Educação Física Escolar’. Se ela é para todo mundo, todos então deveriam estar participando dela”, defendeu.

“O esporte é para todos! É um estimulador de disciplina, criatividade, respeito às regras e de oportunidade de conhecimento dos nossos limites e potenciais”, ponderou a presidente da Comissão de Turismo e Desporto, deputada Prof. Raquel Teixeira (PSDB-GO), que aproveitou para lembrar do momento oportuno que o país está vivendo com a agenda de megaeventos esportivos para esta década. “A realização dos Jogos Paraolímpicos, em 2016, criou um momento propício à realização de novos debates sobre a questão do atendimento ao universo de pessoas com deficiência”.

O esporte como fator de inclusão

Pautada pela emoção, a mesa de abertura do seminário já traduzia o que viria pela frente nas apresentações dos palestrantes. Discutir a importância da Educação Física Escolar para o desenvolvimento de crianças e jovens, nos mais diferentes campos, já é capaz de sensibilizar autoridades e parlamentares, como vimos nos últimos eventos do gênero, realizados no ano passado. No entanto, debater a Educação Física para a pessoa com deficiência nos mostra o quanto a disciplina é essencial para a vida de milhares de indivíduos nessas condições.

Como foi o caso da diretora de Políticas de Educação Especial do Ministério da Educação, Martinha Clarete Dutra dos Santos. Deficiente visual, a professora arrancou aplausos de todos ao dar um depoimento sobre a sua experiência de vida.

“Sempre estudei em escolas comuns e quando cheguei a 5ª série (do antigo ensino fundamental), a minha maior expectativa eram as aulas de Educação Física, já que naquela época as séries iniciais não eram contempladas pela disciplina. Só que tal foi a minha decepção no primeiro dia quando o professor chegou e disse que, pela minha deficiência visual, eu estava ‘dispensada’ das aulas e teria que entregar um trabalho por escrito, todos os meses. Isso passou a ser um pesadelo para mim, a minha frustração”, lamentou.

Em sua palestra, o coordenador de Projetos e Educação Esportiva da Secretaria estadual dos Direito da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Prof. Vanilton Senatore, fez um relato semelhante. Ao apresentar o trabalho pioneiro da Secretaria, criada pelo ex-governador José Serra, em 2008, ele destacou que, infelizmente, o mesmo problema vivido pela Prof. Martinha no passado ainda é realidade na vida de milhares de estudantes.

“Existem muitas crianças e jovens com deficiência que nunca precisaram frequentar escolas especializadas. Eles sempre estudaram em escolas normais ou regulares, como conhecemos. 
No entanto, estes alunos sempre são dispensados da aula de Educação Física pelo fato de o professor não querer correr risco”, destacou.

O esporte como transformador social

Um dos que também suscitaram aplausos no auditório da Câmara foi o presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons, que aproveitou a ocasião para apresentar aos expectadores a recém-criada Academia Paraolímpica Brasileira (APB). Segundo ele, a criação da academia é um projeto antigo do CPB, que tem como foco principal três pilares: a formação de profissionais para trabalhar com a pessoa com deficiência (sendo fundado, para isso, o Centro de Formação de Profissionais do Esporte Paraolímpico); a pesquisa e difusão do conhecimento, visando à publicação de livros nesta área; e a relação institucional do Comitê com o meio acadêmico.

“Sempre que a gente se aproximou do meio acadêmico tivemos grandes resultados”, afirmou Parsons, aproveitando para destacar a importância da conquista do direito de sediar os Jogos Paraolímpicos no Rio em 2016. “Esta é uma oportunidade de transformação social e de discutir, desde já, o segmento das pessoas com deficiência, essa parcela enorme da população”.

O presidente do CPB, assim como todos os que palestraram ou se manifestaram no evento, defendeu o esporte como o “agente mais eficaz de promoção de saúde, educação e exercício da cidadania”, procurando deixar claro que medalhas são importantes, mas estão longe de ser o único objetivo do esporte.

“É importante discutir a Educação Física Escolar tendo em vista os Jogos Paraolímpicos, mas sabendo que a grande maioria das crianças não vai estar nas quadras, piscinas ou tatames em 2016. Porém, se trabalharmos juntos, elas estarão nas arquibancadas, ou assistindo pela televisão, tendo como referência os futuros atletas para que possam se integrar e fazer amizades positivas através do esporte”.

O mesmo vem defendendo durante algum tempo o presidente do CONFEF ao abordar a questão dos megaeventos esportivos. Em sua palestra sobre o processo educacional olímpico no Brasil, o Prof. Jorge Steinhilber foi incisivo ao discutir a questão da preocupação por medalhas em Jogos Olímpicos, procurando exemplificar a sua tese.

“Os Estados Unidos são o país que costuma obter o maior número de medalhas de ouro em Jogos Olímpicos. Mas também são os campeões em obesidade, estresse e sedentarismo. Por outro lado, o Brasil costuma obter excelentes resultados nos Jogos Paraolímpicos. No entanto, acessicibilidade e o respeito às pessoas com deficiência não é tão eficiente, demonstrando que medalhas não melhoram o desenvolvimento humano”, defendeu.

O esporte na educação precoce

A professora da Secretaria de Estado e Educação do Distrito Federal (SEDF), Jaqueline Duarte, abriu os trabalhos do dia apresentando o renomado Programa de Educação Precoce, promovido pela sua Secretaria, e que visa a desenvolver a potencialidade da criança de 0 a 3 anos quanto aos seus aspectos físicos, cognitivos, psicoafetivos, sociais e culturais.

A professora abordou também as competências e responsabilidades do Profissional de Educação Física no programa, especialmente em relação à importância em envolver os pais da criança com deficiência no processo de aprendizado.

“A maioria dos pais que chegam às escolas não está preparada para suprir as necessidades do filho. Então, a orientação que o profissional deve passar para eles é muito importante”, enfatizou.

Nas demais palestras do dia, o Dr. Paulo Henrique Verardi, da Gerência de Desenvolvimento Esportivo do SESC São Paulo, falou sobre a sua experiência na unidade do município de São Carlos, onde desenvolve programas de atividade motora adaptada, jogos especiais, simpósios e atividades físicas para portadores de deficiências. Já o professor da Secretaria de Educação do DF Ulisses Araújo abordou o papel das instituições especializadas no processo de inclusão social.

Fechando as palestras do dia, o profissional Celby Santos ressaltou a importância da Educação Física para as pessoas com deficiência. Com uma apresentação objetiva, que levou os expectadores à reflexão sobre o tema, Prof. Celby levantou o fato de o Brasil ser um dos países que possui um grande número de leis que enfocam as pessoas com deficiência, mas, contudo, ainda precisa avançar – e muito – nesta questão.

“O que nós precisamos é fiscalizar mais a aplicação dessas leis!”, alertou.

Coordenado pelo Prof. Lucio Rogério e elaborado por uma comissão relatora formada por conselheiros regionais e federais de Educação Física, além de estudantes e Profissionais, foi apresentando o documento final do seminário, contendo algumas diretrizes para ações de políticas públicas para a Educação Física Especial e Inclusiva no Brasil.

Olímpiadas Especiais Brasil

Um dos momentos marcantes do Seminário “A Educação Física Escolar Especial, a Inclusiva e as Paraolimpíadas” foi o reencontro de Profissionais de Educação Física integrantes da extinta Olimpíadas Especiais Brasil – OEB. Os Jogos foram criados pelo Special Olympics International, em 1968, e tiveram a sua primeira versão brasileira na década de 1990.
Reunindo atletas portadores de deficiência de diversos estados, a OEB marcou época e foi recordada na Câmara por alguns de seus principais protagonistas.

“Nós éramos uma família especial!”, contou o Prof. Paulo Roberto, o “Paulinho”, professor de natação.

A presidente da OEB do Distrito Federal, Prof. Maria Aparecida Tiveron, conhecida como “Cida”, explicou que, na ocasião, existiam os Jogos locais, nacionais e internacionais de Inverno e de Verão.

“Fui chefe de delegação para a Áustria, nossa primeira experiência de Jogos Olímpicos de Inverno”, contou ela, sem esconder a satisfação em conviver com esses atletas bastante especiais. “Foi muito gratificante trabalhar com esses alunos. Até hoje, às vezes, quando a gente se encontra, eles falam: ‘A gente viu o mar e neve’”.

“O trabalho não tinha remuneração. Você tinha que ser um herói e trabalhar muito. Só quem vivenciou sabe...”, afirmou o profissional Mauro Lacerda, o “Maurinho”.

Porém, foi o relato do Prof. Garcia Moreno que mais emocionou a plateia. O profissional ensinou o irmão, portador de Síndrome de Down, a nadar e foi o seu técnico nos Jogos Mundiais de Minneapolis em 1999. O atleta ficou com a medalha de prata, mas isso era o que menos importava. A superação e a determinação do irmão nas piscinas fizeram com que o Prof. Garcia escrevesse um poema em sua homenagem, presente em seu livro “Síndrome de Down – Um Problema Maravilhoso”, e que foi recitado no encontro, provocando aplausos da plateia.

A competição, as medalhas? Não importavam. Como disse o Prof. Paulinho, a união desta “família especial” foi o aprendizado mais importante dessa linda história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário