sábado, 10 de setembro de 2011

Caminhos para a nossa realização


Texto do meu livro Aprendendo a viver. 4ª ed. São Paulo: Paulinas, 2008, p.75-79.

Gerenciar nossa complexidade

Quem pode conhecer os múltiplos caminhos do ser humano?

Há mil possibilidades de realização e de fracasso. A vida nos ensina a não aplicar a todos situações individuais, localizadas. Queremos que todos caibam nos nossos moldes mentais. Avaliamos os outros a partir das nossas idéias. Há algo de universal em cada pessoa. Mas há também algo de especificamente pessoal, de diferente, em todo processo de generalização.

Alguns têm tudo para ser felizes – riqueza, beleza, cultura – e , por vezes, os vemos profundamente insatisfeitos, irrealizados.Outros têm tudo para ser infelizes – pobres, sem grandes atrativos, sem estudos – e vivem com garra, força, de forma otimista.

Vemos irmãos, com a mesma educação, que pensam e vivem de forma totalmente diferente. Relacionamentos que parecem ideais, em que todos apostam, às vezes viram um fiasco e outros, de pessoas que nada têm em comum, inexplicavelmente dão certo.

Cada um de nós tem uma grande margem de mistério para os outros e para nós mesmos. Não somos capazes de conhecer todas as nossas possibilidades e reações; como podemos acreditar que conhecemos as dos outros?

Que caminhos seguir?

Todos os caminhos são importantes se nos ajudam a crescer como pessoas, a compreender melhor, a realizar-nos mais, a vivenciar formas mais ricas de comunicação e amor.

O melhor que podemos fazer pela sociedade, pelo mundo, pela família e por nós mesmos é sermos pessoas mais evoluídas, mais maduras, mais humanas.
Podemos conhecer mais e experimentar novas formas de viver, pela ação e pela reflexão, pela intensa comunicação com pessoas e pelo isolamento, pela adesão a uma religião ou a uma filosofia humanista.

Ninguém tem o monopólio de como chegar ao conhecimento ou às chaves da realização pessoal.
1.  Uns podem chegar à realização pelo sofrimento – quando sabem enfrentá-lo
2.  Outros, pelo contato com pessoas interessantes, por leituras estimulantes ou pelo estudo.
3.  Uns, por formas diferentes de vivências religiosas: meditam, fazem ioga, se isolam, rezam
4.  Outros organizam eventos, promovem ações concretas, visíveis, coordenam ou participam de vários grupos...
Qualquer situação ou interação pode ajudar-nos a evoluir, dependendo de como a encaramos. Tudo pode ser-nos útil para o contínuo crescimento, se conseguimos incorporá-lo à nossa vida como aprendizado, como incentivo, como um degrau a mais; se sabemos superar o que tenta prender-nos, o que tenta desvalorizar-nos, humilhar-nos, derrotar-nos.Todos os caminhos são bons se nos ajudam a evoluir. Há porém, caminhos destrutivos: a fuga, a alienação, a humilhação, a emoção contínua negativa, a comunicação inautêntica.Cada um de nós descobrirá que pode combinar e equilibrar ação e reflexão, leituras e práticas, isolamento e interação, humanismo e religiosidade, a partir das características pessoais, da sua própria trajetória do passado até o presente, do seu universo mental e emocional específico.
Avançaremos mais se aprendermos equilibrar planejamento e criatividade; organização e inovação; gerenciamento responsável e abertura para o novo, para o inesperado.

Daremos saltos de qualidade no conhecimento se estivermos atentos aos múltiplos signos da vida. A vida é como um lento desfolhar de novos sentidos, de novos significados: cada camada descoberta nos leva a novas perspectivas, ao aprofundamento de novas dimensões.

Viver nesta atitude de desvendamento revelador é uma das experiências mais gratificantes que o ser humano pode sentir.Encontraremos os melhores caminhos se sempre estivermos serenamente atentos para aprender, abertos para a novidade de viver cada dia da melhor forma possível, em cada momento, agora; atentos para o incentivo, para o apoio pessoal e interpessoal, para não nos deixar empolgar demais com os sucessos nem nos abater com os problemas e eventuais “fracassos”.

Encontraremos os melhores caminhos se soubermos aprender com cada circunstância que se nos apresente e se estivermos atentos a tantas formas bonitas de aprender a crescer. Vamos fazer a nossa parte e deixar fluir, dar margem ao imponderável.
  • Ficar abertos para o novo. Aceitar as surpresas da vida, o que não esperávamos, tanto o “positivo” como o “negativo”.
  • Monitorar nossas vidas com carinho, afeto, atenção. Aceitar-nos plenamente, continuamente, incondicionalmente. Aceitar o que fomos, o que somos, o que seremos.
  • Rever o nossa passado como etapas de grande aprendizado, de evolução. Aceitá-lo como nosso, como algo que está em nós. Estar atentos aos sinais de impaciência, de crítica, de desânimo, de depressão.
  • Não nos obrigar a carregar pesos insuportáveis. Assumir os descontroles eventuais, a perda de sentido, as indefinições. Apoiarmo-nos sempre, esperar sempre, confiar sempre.
  • Incentivar-nos, dialogar permanentemente consigo mesmo, buscar apoio nas dimensões misteriosas do nosso universo, em tantas forças que interagem conosco, para poder perceber mais e mais a complexidade que nos rodeia.
  • Acreditar sempre em nós mesmos, em nosso fluir como pessoas, que há um sentido maior para o nosso dia-a-dia, que tudo contribui para o nosso aprendizado e para o nosso aperfeiçoamento.
  • Viver no presente, atentos ao futuro, mas sempre valorizando o que está acontecendo no aqui e agora, que nos acompanha e podemos transcender, mas nunca negar.
  • Procurar viver com simplicidade, menos apegados aos bens e ao poder. Ir na contramão do consumismo, da posse, da ostentação.
  • Ir na contramão da tendência de possuir, acumular, juntar, multiplicar bens, de ter de lucrar sempre, o mais possível, obsessivamente; das tendência de ostentar, mostrar status, luxo, poder, alto padrão de vida; da tendência de consumir, ter de comprar, de necessitar sempre de roupas, novidades, modas.
  • Ter o necessário e procurar necessitar de cada vez menos coisas. É importante ter sem possuir, sem apegar-nos, sem deixar-nos dominar pelos objetos, pessoas, pelo desejo do que não é nosso.
  • Comunicarmos da forma mais autêntica e aberta possível, colaborando para que haja maior entendimento e confiança. Manter um diálogo permanente com tudo que nos rodeia.
  • Contribuir para que haja um clima mais harmônico ao nosso lado, para sermos elementos de união, e não de discórdia.
  • Pedir desculpas a nós mesmos e desculpar-nos quando erramos, quando nos perdoamos, quando cometemos injustiças, críticas exageradas, julgamentos apressados. Viver no ritmo possível, no tempo possível, nas formas possíveis.
  • Mudar os aspectos da nossa vida até onde formos capazes, para encontrar nossa identidade, nosso estilo, nossa forma de comunicação e de gestão.
O importante é estar vivenciando continuamente processos de liberdade e de realização, em todas as dimensões, na medida em que formos capazes, em cada momento das nossas vidas.

Assim iremos nos tornando pessoas mais livres, marcantes e realizadas.

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