sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A IMAGEM DOS TREINADORES DE FUTEBOL NA PERSPECTIVA DOS JORNALISTAS"


Arnaldo Cunha*, Gustavo Pires** e Carlos Colaço**
(*S.L.Benfica, Univ.Lusófona-Lisboa, Univ.Coimbra /** Fac. Motricidade Humana-Lisboa)
Palavras-chave: Treinadores, Jornalistas, Futebol, Representação Social, Mercado, Media

Introdução

O futebol tornou-se um produto de um negócio que os media não produzem mas vendem. Distintamente em relação ao passado, a comunicação social produz não já notícias a partir de factos que chegam ao seu conhecimento, mas realiza comentários, emite opiniões, faz reflexões, retira ilacções e manifesta interpretações sobre esses mesmos factos, orientando o seu decurso, recriando-os e ou criando até novos factos.

De entre todos os meios de comunicação a imprensa é aquele que mais situa a informação no espaço e no tempo: permite ler, reler, interromper a leitura, recomeçar de novo, sem limitações que não sejam as que o próprio leitor impõe a si mesmo.
Confrontados a cada momento com o poder dos media, aos treinadores será exigida, pelas implicações na sua própria sobrevivência profissional, uma gestão criteriosa da sua imagem junto dos jornalistas.

Problema

O problema fundamental colocado era o de sabermos o que os jornalistas pensam dos treinadores de futebol.

Objetivos

Foram definidos três objectivos neste estudo:

- 1º possibilitar aos treinadores de futebol o conhecimento da sua imagem na perspectiva de quem informa;
- 2º facultar aos treinadores de futebol informação para uma gestão adequada dessa imagem aos seus interesses próprios;
- 3º permitir aos responsáveis pela formação dos treinadores de futebol o estudo das relações com a comunicação social.

Amostra

Foram seleccionados para constituir a amostra deste estudo todos os jornalistas dos jornais desportivos diários - a saber, "A Bola", "O Jogo" e "Record" -, num total de 213 jornalistas, aos quais foi aplicado um questionário. Obtivemos 120 inquéritos válidos entre os 121 respondidos.

Tipo de estudo

Sendo este estudo de natureza exploratória, descritivo, não foram por isso estabelecidas hipóteses a confirmar ou a infirmar.

Recolha de dados

A recolha de dados foi efectuada a partir de um questionário de administração directa (auto-aplicação) por correspondência.

Questionário

O questionário era constituído por um conjunto de quarenta e duas (42) questões fechadas com escala de escolha múltipla, tendo os inquiridos que optar entre cinco posições relativas.

Tratamento de dados

Realizamos os somatórios das frequências de cada posição relativa face a cada questão colocada, os quais transformámos de imediato em valores percentuais. Da análise efectuada aos resultados obtidos a partir da resposta às 42 questões colocadas aos jornalistas apurámos as conclusões sequentes.

Conclusões

Para os jornalistas, os treinadores de futebol são competentes (80.0%). Os treinadores competentes são os que têm maior nível de formação (69.1%), foram treinadores-adjuntos (65.0%) e frequentaram cursos específicos (64.1%).
Para os jornalistas é indiferente que os treinadores provenham da área de formação ou tenham sido jogadores (95.0%). Os da área de formação são competentes para dirigir , tanto equipas profissionais (82.5%) como equipas seniores não-profissionais (83.3%).

Os jornalistas afirmam que os treinadores apresentam um padrão cultural baixo (77.5%), não falam línguas estrangeiras (55.0%) e são avessos a frequentar acções de formação (45.0%, opinião tendencial), muito embora - em evidente contraste - considerem que os treinadores são competentes para publicar em livros e revistas da especialidade (55.0%) e se actualizam através da leitura técnico-profissional (46.7%, opinião tendencial).

Os treinadores não sabem relacionar-se com a Comunicação Social (58.3%), afirmam os jornalistas. Esta opinião é muito relevante porquanto são os próprios jornalistas a afirmar que o que é transmitido pela Comunicação Social é importante para a contratação e o despedimento dos treinadores (72.5%), por um lado, e que a influência da Comunicação Social é fundamental na obtenção de bons contratos por parte dos treinadores (75.0%), por outro.

No que respeita às relações com diversos agentes desportivos, os jornalistas afirmam que os treinadores não têm um forte espírito de classe (85.8%), cedem às opiniões dos dirigentes, (74.1%), interessam-se pelos problemas pessoais dos jogadores, (72.5%) e aceitam as opiniões dos sócios (64.1%).

Para os jornalistas, o êxito dos treinadores está dependente das condições de trabalho (93.3%), da contratação de jogadores (85.9%), da sorte (66.6%), da competência na escolha de jogadores (62.5 %) e do rendimento dos jogadores (62.5%).

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--------------- Nota: Este estudo reproduz parte do conteúdo da dissertação defendida pelo autor em Dezembro de 1997, na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa, visando a obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desporto.

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